Para o colunista Leonardo Sakamoto, a República brasileira precisa questionar, diante de tantos “equívocos” da deputada Carla Zambelli (PL-SP): Será que a parlamentar é inimputável?
Na terça-feira (2), Zambelli chamou a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) de “Chica da Silva”, uma figura histórica que foi escravizada e depois alforriada, tornando-se uma das mulheres mais poderosas do Arraial do Tijuco, atual município de Diamantina (MG), no século XVIII. Zambelli pediu desculpas, mas o PT-RJ acusou racismo.
Reduzir uma pessoa que foi governadora, vice-governadora, secretária estadual, ministra de estado, senadora da República, deputada federal, vereadora, com 82 anos de história e luta, a uma alcunha de uma escravizada é um completo absurdo. É interessante como Carla Zambelli se equivoca justamente com uma pessoa negra. Sempre que isso acontece, há uma pessoa negra, vulnerável, sendo alvo desses “equívocos”.
Leonardo Sakamoto
Será que foi um equívoco semelhante à perseguição de um homem negro por Zambelli, na véspera do segundo turno das eleições de 2022, com uma arma em punho pelas ruas lotadas de São Paulo? Um jornalista negro discutiu com ela, e ela o perseguiu armada pelas ruas. A cor de pele dele foi outro equívoco?
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Essas coincidências repetem-se, demonstrando um padrão. Um padrão incômodo no bolsonarismo, que utiliza a tática de falar algo, deixar viralizar e depois alegar que foi um equívoco. Carla Zambelli é acusada de pagar um hacker da Lava Jato, tentar hackear a Justiça Eleitoral, pedir a prisão de Alexandre de Moraes, criar pedidos falsos de soltura de criminosos. Perseguiu um homem negro com uma arma e chamou uma das mais importantes figuras políticas negras do país de uma escravizada. A pergunta que devemos fazer à República brasileira é: Carla Zambelli é inimputável?
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Sakamoto afirma que Zambelli parece estar pedindo para ter seu mandato de deputada federal cassado.
Após chamar Benedita da Silva de Chica da Silva, Carla Zambelli parece estar implorando para ser cassada. Quando a poeira de um caso abaixa, ela retorna com outro episódio deplorável.
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Alguns podem dizer: “Ah, mas é um nome bonito, de ascensão social”. É o nome de uma pessoa que foi escravizada no século XVIII, cuja história foi romantizada em novelas, filmes, livros. Mas a história real não é assim. Quando uma mulher branca chama uma mulher negra pela alcunha de uma escravizada, comprada, vendida, coisificada, está colocando essa pessoa “no seu devido lugar” ou, pelo menos, no lugar que essa interlocutora acha que essa pessoa deva estar.
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