Renomada por atender desde figuras públicas como Jair Bolsonaro e Dilma Rousseff até celebridades como Anitta, a médica Ludhmila Hajjar alertou para o aumento de práticas duvidosas que afetam profundamente a medicina no Brasil. Em entrevista ao “Alt Tabet”, no Canal UOL, a cardiologista destacou que esse fenômeno não se restringe ao país, mas é um problema global.
Hajjar identificou “múltiplos fatores que contribuíram para essa onda de práticas duvidosas que hoje permeiam a medicina e a ciência”. “Este não é um problema exclusivo do Brasil; é uma realidade mundial. No entanto, o Brasil está enfrentando isso de maneira extrema”.
Segundo a médica, a facilidade crescente para obter um diploma de medicina tem impacto direto nesse cenário, resultando em muitos profissionais mais preocupados com lucro do que com o bem-estar dos pacientes. “Não tenho dúvidas sobre isso, e eles estão por aí. É lamentável. São indivíduos sem talento genuíno, sem a vocação essencial de gostar das pessoas. O que nos diferenciava antes? Era necessário um estudo árduo para passar em vestibulares difíceis, mas infelizmente houve uma proliferação descontrolada de faculdades de medicina no Brasil. Hoje, somos apenas superados pela Índia, sendo o segundo país com mais faculdades de medicina no mundo, muitas delas privadas e de baixa qualidade”.
Ludhmila enfatizou que muitas dessas instituições não oferecem o mínimo necessário para a formação adequada de médicos, com falta de professores qualificados e hospitais universitários. “[Elas formam] esses pseudo-médicos que carecem de conhecimento e não realizam residência. São esses profissionais que acabam atuando em postos de saúde e unidades de pronto-atendimento, tratando um infarto como uma simples dor e prescrevendo anti-inflamatórios. Estamos vivenciando o pior momento da formação médica no Brasil”.
Ludhmila Hajjar, que foi cotada para assumir o cargo de ministra da saúde durante o governo Jair Bolsonaro (PL), admitiu que não tinha essa pretensão, mas revelou que considerou a possibilidade. “Durante a pandemia de covid-19, diante do cenário que o Brasil enfrentava, recebi um telefonema do presidente Bolsonaro, discutimos, mas não houve convergência de ideias e eu não me senti capaz de trabalhar efetivamente naquele governo. Naquele momento, tive minhas dúvidas. Hoje, não consideraria. Não descarto a possibilidade no futuro, mas se um dia aceitar, será sob minhas condições. Eu me comprometo a zelar pela saúde das pessoas, atuando da forma correta, sem politizar a medicina”.
A situação de práticas duvidosas na medicina se agravou com a pandemia de covid-19. Com o país enfrentando um aumento do negacionismo, ficou evidente o quão superficial e problemática é a formação médica atual, com indivíduos vendendo tratamentos não comprovados, como ozonioterapia, para doenças graves. Estamos presenciando um ciclo prejudicial que precisa ser interrompido.